sábado, 27 de março de 2010

City of Blinding Lights

Abri a porta do meu novo quarto mas não entrei, fiquei parada na porta, admirando. Era simples e sofisticado ao mesmo tempo, a cama era grande e do lado direito da mesma havia uma mesinha de cabeceira com um pequeno abajur em cima. Ainda do lado direito do quarto avistei um guarda-roupas, mas como era noite e a única luz existente no cômodo vinha da janela, não pude distinguir exatamente de que cor ele era, tampouco as paredes, mas, até onde a luz alcançava elas pareciam ser brancas.

Reparei melhor na janela. Ela ocupava quase que a metade da parede esquerda do quarto e sua veneziana estava recolhida, mantinha-se fechada apenas pelo vidro. Me aproximei dela e então meus olhos se encheram de lágrimas, uma felicidade imensa tomou conta de mim, senti o coração leve, como nunca havia sentido antes. As luzes da cidade, das ruas, dos faróis dos carros, das lojas, das antenas, das empresas, dos aviões que passavam ocasionalmente, todas elas, pareciam brilhar para mim e os prédios e contruções imponentes pareciam sorrir, dizendo: "bem-vinda de volta".

Não sei quanto tempo fiquei parada alí até que decidi me deitar. Fui até minha nova cama e entrei de baixo das cobertas. Continuei olhando para a janela, a cama era alta e a janela enorme, por tanto, o fato de eu estar deitada não prejudicava minha visão de la de fora. Me perguntei se minha mãe teria pensado nisso na hora de mobiliar meu quarto. Me lembraria de agradece-la incansavelmente pela manhã e por todas as manhãs que se seguiriam. Voltei minha atenção para a janela, a paz que eu sentia em olhar para tudo aquilo era imensa, indescritível. Finalmente eu estava em casa e tinha todo o tempo do mundo alí.

Pensei nos meus amigos, nas pessoas que eu amava e que estavam próximas de mim agora, esse pensamento fez com que todas as coisas boas que eu estava sentindo aumentassem ainda mais. Eu sabia que recuperaria todo o tempo perdido, aliás, o tempo agora, ao contrário de um ano atrás, estava ao meu favor. Fechei os olhos, a minha tranquilidade era tanta que eu sentia como se pudesse flutuar, meu coração estava inteiro, perfeito. Agonia era uma palavra totalmente estranha para mim agora, nem dava pra acreditar que um dia, ela fora uma companheira constante.

Abri os olhos novamente e vi um avião passando ao longe e involuntáriamente, lembrei-me das pessoas que havia deixado para trás, na pequena cidade. Senti uma pontadinha de dor no coração, não vou negar, mas ainda assim sentia ele leve e inteiro, eu sabia que se estivessemos permanecido la, a dor teria sido maior. Sim, tinhamos feito a coisa certa, eu sabia, tinha essa certeza em cada respirar, e o som dos meus batimentos cardíacos soavam calmos, como um "muito obrigado".

Adormeci lentamente, mas lá fora o movimento não parou, aliás, na cidade onde as luzes ofuscam, o movimento nunca para.

(Baseado em um sonho que eu tive na madrugada do dia 25 de março de 2010)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009